terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Relatório da viagem de estudos Roteiro dos Jesuítas




   Em 16 de agosto de 2013, a partir das 07h30min, a turma do curso de história 2012.2 noturno, saiu da UFSe em direção aos municípios de Laranjeiras, Itaporanga D’Ajuda e Tomar do Geru, dirigida pelo Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Souza e acompanhada pela monitora Josefa Eliene Santos. Por esse roteiro dos jesuítas, pudemos conhecer um pouco do que construiu a Companhia de Jesus durante o período colonial aqui no estado, até sua expulsão pelo Marquês de Pombal, por volta de 1760.





Igreja de N.S. da Conceição de Comandaroba
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)
                                                 



Turma em frente à Igreja de Comandaroba
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)





      De Aracaju fomos primeiramente a Laranjeiras, no povoado Comandaroba (nome de origem indígena que alguns historiadores dizem significar “feijão-verde”), mais especificamente à igreja de mesmo nome. Chegamos lá por volta das 08h00min.
      De início, o professor separou a turma em sete grupos, cada um com cinco alunos, e deu-lhes tarefas específicas - um grupo ficou responsável por observar os túmulos, outro pelas imagens, outro ainda pela a parte lateral externa, etc. A minha equipe ficou responsável pelas imagens, ou imaginária.
      A Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Comandaroba situa-se no topo dum pequeno monte. Ela encanta, fundindo na sua arquitetura o Barroco, o Maneirismo e a Renascença, sensação que aumenta na beleza dos arcos. Sua construção data de 1734, e foi fundada pela Companhia de Jesus, antes da expulsão. Assim como as outras duas que visitamos, é tombada pelo IPHAN desde 1985, trina e cinco anos depois da sua restauração.
      O seu surgimento bem assim como a fixação dos religiosos fundadores no local está relacionado, como veio a nos revelar o Prof.Dr.Antônio, com o ciclo do açúcar na economia sergipana. A própria povoação de Laranjeiras vem a se desenvolver no final do período colonial pelo mesmo fator.
      A padroeira da igreja é bem conhecida É interessante como o título dado à Virgem Maria de “Nossa Senhora da Conceição” é muito usado no Brasil, o que é explicado entre outros motivos pela colonização portuguesa, pois ela é padroeira da nossa antiga metrópole. Apenas foi-lhe adicionado o nome de “Comandaroba”, em referência à comunidade onde surgiu.
      Ao entrar em seu interior pudemos ver o cuidado de detalhes no trabalho dos artistas que compuseram a obra arquitetônica. Muitas de suas portas e janelas possuem vedação em folhas almofadadas (como é o caso da porta que dá acesso à lateral altar pela sacristia, e das janelas retangulares da parte superior interna da igreja); o altar é entalhado em madeira, com vários detalhes de anjos entre outras representações; o púlpito, também em madeira, possui detalhes também em sua base de pedra.
      Há ainda, como é comum nos corredores de igrejas antigas, lápides de pessoas importantes, que fizeram parte de sua história. Na sacristia há uma arca grande em madeira e uma pia batismal.

      Obedecendo ao procedimento do professor, meu grupo foi logo em busca das imagens, mas estavam cobertas por véus roxos, devido à Quaresma. Nós fotografamo-las então do jeito que estavam, mas conseguimos fotos delas descobertas pelo auxílio da internet. As imagens são: São Benedito, São José, N.S. da Conceição, Sagrado Coração de Jesus e São Gonçalo. Vale ressaltar que São Gonçalo e São Benedito e N. S. da Conceição eram muito comuns nas igrejas do Brasil colônia, diferentemente de Sagrado Coração de Jesus (porque não havia ainda a devoção).






Altar da Igreja de N.S. da Conceição de Comandaroba 
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)





Altar da Igreja de N.S. da Conceição de Comandaroba, onde vemos os santos cobertos por véus devido à Quraesma.
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)
      



      Após a pesquisa dos grupos, o professor foi dando-nos explicações quanto à história e a estrutura da igreja, que serviram de base para as informações quedadas logo acima neste relatório.
      No fim da manhã, saímos de Laranjeiras e fomos em direção a Itaporanga D’Ajuda, no povoado Tejupeba. Dirigimo-nos à Fazenda Iolanda, a qual pertence à família Mandarino atualmente, mas que antanho era da Companhia de Jesus. Isso porque, não apenas em Sergipe mas em todo Brasil, depois da expulsão as propriedades dos jesuítas acabaram virando particulares, sendo que algumas deixaram de o ser ao longo do tempo, o que não é o caso da igreja de Tejupeba.
        Na fazenda se encontram uma igreja, um colégio jesuíta e uma senzala.




Casa-colégio dos jesuítas
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)



Vista frontal da Igreja de N.S. de Lourdes
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)



      A igreja, que é dedicada a N.S. de Lourdes, é um templo religioso mui belo por fora, com vários detalhes numerosos arcos em um de seus lados (nove no total)... As torres são também muito detalhadas e na frente do templo há arcos transpassados decorando-o, acima da porta principal.




Lateral esquerda da Igreja de N.S. de Lourdes. Nessa imagem podemos ver os óculos e os arcos que detalham a estrutura.
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)

    





torres da igreja 
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr.
 Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)
       Mas toda essa admiração com a sua boniteza finda ao entrarmos: em seu interior se constata péssima conservação dum templo que até a década de setenta era usado para celebrações, e isso ainda sabendo que é um patrimônio tombado como nacional. Do altar quase nada mais resta, apenas escombros do que um dia foi; seu púlpito parece apenas uma rampa quadricular suspensa, sem decoração ou pintura; e em sua sacristia vê-se apenas o escuro onde se encontram quebradas 6 lápides de vistosos personagens da história daquela fazenda que tem uma das igrejas mais antigas do estado sergipano e um pequeno altar ainda de pé, mas sem imagens.



altar principal
(Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)





sacristia da igreja de Tejupeba, com lápides quebradas
(Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)




piso deteriorado da igreja
(Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)

                                                   



      O colégio-casa dos jesuítas tem uma estrutura pequena com uma boa quantidade de cômodos que se distribuem em dois andares. Por fora podemos ver uma varanda na parte superior e formas retas, sem detalhes (tais formas também no interior); dentro do colégio-casa nada mais se encontra de original que se possa descrever além de paredes, pois nem o piso, nem talvez o teto permaneceram originais. Nenhum cômodo do período possui. Por causa da falta de iluminação, situação comum à da igreja, os morcegos abundam.        
      No andar superior é recomendável que se ande com bastante cautela, pois as tábuas do assoalho estão em más condições havendo muitas podres.



      



  
                       
casa-colégio dos jesuítas
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr.
 Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)




Uma das salas do interior da casa-colégio
(Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)
detalhe da frente da casa-colégio dos
jesuítas em Tejupeba
(Fonte: arquivo pessoal do alun
o Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)
   


  Quanto às senzalas que lá há, não são moradias de amontoamento coletivo feitas de palha, como imaginamos. São lares individuais de pequenas proporções - devido à Lei Eusébio de Queiróz houve ou maior cuidado com os escravos pelos seus patrões, visto que era mais vista como mais importante sua procriação para a sustentação do sistema escravista.
      Ao chegarmos, o professor nos explicou a dinâmica que procederia. Seriam escondidas duas barras de cereais, uma no interior da Igreja e a outra no do colégio. Fomos divididos em dois grupos, cada grupo ficou com um dos monumentos, e tinha como dever nele encontrar a sua barra de cereais. Então, depois das instruções de cautela e da explicação da dinâmica, fomos em busca da barra, conhecendo ao mesmo tempo o patrimônio histórico.
      Depois de concluída a dinâmica, foi dada ao meu grupo (o da casa-colégio) a permissão de conhecer o patrimônio onde o outro grupo foi achar a barra (a igreja), e a este também a de conhecer a casa colégio.
      Concluindo a viagem de estudos o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo explicou a história do local, dando-nos ideia da sua importância, seguido da aluna universitária itaporanguense conhecida como Josi, que está concluindo o curso de história e que faz sua monografia sobre Tejupeba.
    Pudemos, por exemplo, conhecer que a região onde fica hoje a fazenda, se situava a aldeia Tejupeba, donde vem o nome atual do povoado. Os frades e padres jesuítas, então, tiveram ideia de nela fazer missão. Já em 1601, há registros de pedidos de terrenos deles aos seus superiores. Tempo depois ela surgiu.
    A abundância de madeira, a capacidade daqueles jesuítas de fazerem embarcações, a criação de gado deles aliadas à abundância de mão-de-obra indígena fermentaram o desenvolvimento da missão jesuíta na localidade.
    Tanto os índios quanto os frades e os padres participaram daquelas construções, mas diz-se que a mão de obra foi basicamente indígena porquanto o número de frades e padres era bem inferior ao de índios. Mas isso não queria dizer que a relação entre os dois grupos fosse totalmente harmoniosa.
    Após a expulsão dos jesuítas no Brasil, a propriedade passa para barão de Estância, Antônio Dias Coelho; e depois da família Coelho, passará em 1920 para um italiano da Sardenha, de nome Nicola Mandarino, e desde então não sai da família.
    Hoje os lugares onde antes aqueles homens de fé seguidores de Inácio de Loyola que ensinavam os índios estão sem reformas ou restauração, podendo futuramente vir a desabar e, junto com eles, um pouco de nossa história.




Vista frontal da Igreja de N.S. do Perpétuo Socorro, em Tomar do Geru
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)





Vista do interior da igreja de Tomar do Geru, onde se pode ver o altar ao centro e os
nichos laterais, com detalhes banhados a ouro.
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)





(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)


Brasão da Companhia de Jesus no teto da nave da igreja
(Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)





      Concluído o estudo, fomos a Tomar do Geru, à igreja de N.S. do Perpétuo Socorro. Esta tem o exterior muito simples, sem muitos detalhes, sem a grandiosidade que vimos em Tejupeba. Mas ao entrarmos vimos que valeu a pena viajarmos tantas dezenas de quilômetros. No seu interior, o altar de madeira banhado a ouro em toda sua extensão (salvo detalhes) e cheio de adornos; suas imagens, antigas e também em madeira; no teto, o brasão da Companhia de Jesus, etc. Verifica-se também um digno púlpito, bem conservado.
       A sacristia é extensa e há na parte superior da igreja uma sala vazia onde se pode ver a parte de trás do altar, que é por onde se colocam as imagens que ficam a nível de altura superior no altar.
     O templo é datado de 1688, e de sua origem participaram os índios Kiriri, que habitavam a redondeza. Então o seu grande diferencial em relação às outras que visitamos é justamente ter a história não relacionada aos Tupinambá, mas aos Tapuia.
        Primeiramente, o terreno que viria a ser aldeamento jesuítas pertencia aos carmelitas, mas no fim século XVII foi comprado pelos jesuítas que deram origem aos seus aldeamentos, à sua missão.
      E assim daquela igreja saímos e concluímos nossa viagem, seguindo vestígios históricos dum pouco do que a Companhia de Jesus fez em nosso estado.

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