Em 16 de agosto de 2013, a partir das 07h30min, a turma do curso de
história 2012.2 noturno, saiu da UFSe em direção aos municípios de Laranjeiras,
Itaporanga D’Ajuda e Tomar do Geru, dirigida pelo Prof. Dr. Antônio Lindvaldo
Souza e acompanhada pela monitora Josefa Eliene Santos. Por esse roteiro dos
jesuítas, pudemos conhecer um pouco do que construiu a Companhia de Jesus
durante o período colonial aqui no estado, até sua expulsão pelo Marquês de
Pombal, por volta de 1760.
Igreja de N.S. da Conceição de Comandaroba (Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13) |
Turma em frente à Igreja de Comandaroba (Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13) |
De Aracaju fomos primeiramente a Laranjeiras, no povoado Comandaroba (nome
de origem indígena que alguns historiadores dizem significar “feijão-verde”),
mais especificamente à igreja de mesmo nome. Chegamos lá por volta das 08h00min.
De início, o professor separou a turma em sete grupos, cada um com cinco
alunos, e deu-lhes tarefas específicas - um grupo ficou responsável por
observar os túmulos, outro pelas imagens, outro ainda pela a parte lateral
externa, etc. A minha equipe ficou responsável pelas imagens, ou imaginária.
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Comandaroba situa-se no topo
dum pequeno monte. Ela encanta, fundindo na sua arquitetura o Barroco, o
Maneirismo e a Renascença, sensação que aumenta na beleza dos arcos. Sua construção
data de 1734, e foi fundada pela Companhia de Jesus, antes da expulsão. Assim
como as outras duas que visitamos, é tombada pelo IPHAN desde 1985, trina e
cinco anos depois da sua restauração.
O seu surgimento bem assim como
a fixação dos religiosos fundadores no local está relacionado, como veio a nos
revelar o Prof.Dr.Antônio, com o ciclo do açúcar na economia sergipana. A
própria povoação de Laranjeiras vem a se desenvolver no final do período
colonial pelo mesmo fator.
A padroeira da igreja é bem conhecida É interessante como o título dado à
Virgem Maria de “Nossa Senhora da Conceição” é muito usado no Brasil, o que é
explicado entre outros motivos pela colonização portuguesa, pois ela é
padroeira da nossa antiga metrópole. Apenas foi-lhe adicionado o nome de “Comandaroba”,
em referência à comunidade onde surgiu.
Ao entrar em seu interior pudemos ver o cuidado de detalhes no trabalho
dos artistas que compuseram a obra arquitetônica. Muitas de suas portas e
janelas possuem vedação em folhas almofadadas (como é o caso da porta que dá
acesso à lateral altar pela sacristia, e das janelas retangulares da parte
superior interna da igreja); o altar é entalhado em madeira, com vários detalhes
de anjos entre outras representações; o púlpito, também em madeira, possui
detalhes também em sua base de pedra.
Há ainda, como é comum nos corredores de igrejas antigas, lápides de
pessoas importantes, que fizeram parte de sua história. Na sacristia há uma
arca grande em madeira e uma pia batismal.
Obedecendo ao procedimento do professor, meu grupo foi logo em busca das
imagens, mas estavam cobertas por véus roxos, devido à Quaresma. Nós fotografamo-las
então do jeito que estavam, mas conseguimos fotos delas descobertas pelo
auxílio da internet. As imagens são: São Benedito, São José, N.S. da Conceição,
Sagrado Coração de Jesus e São Gonçalo. Vale ressaltar que São Gonçalo e São
Benedito e N. S. da Conceição eram muito comuns nas igrejas do Brasil colônia,
diferentemente de Sagrado Coração de Jesus (porque não havia ainda a devoção).
Altar da Igreja de N.S. da Conceição de Comandaroba
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)Altar da Igreja de N.S. da Conceição de Comandaroba, onde vemos os santos cobertos por véus devido à Quraesma. (Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13) |
Após a pesquisa dos grupos, o professor foi dando-nos explicações quanto
à história e a estrutura da igreja, que serviram de base para as informações
quedadas logo acima neste relatório.
No fim da manhã, saímos de Laranjeiras e fomos em direção a Itaporanga
D’Ajuda, no povoado Tejupeba. Dirigimo-nos à Fazenda Iolanda, a qual pertence à
família Mandarino atualmente, mas que antanho era da Companhia de Jesus. Isso
porque, não apenas em Sergipe mas em todo Brasil, depois da expulsão as
propriedades dos jesuítas acabaram virando particulares, sendo que algumas
deixaram de o ser ao longo do tempo, o que não é o caso da igreja de Tejupeba.
Na fazenda se encontram uma igreja, um colégio jesuíta e uma senzala.
Casa-colégio dos jesuítas (Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13) |
Vista frontal da Igreja de N.S. de Lourdes (Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13) |
A igreja, que é dedicada a N.S. de Lourdes, é um templo religioso mui
belo por fora, com vários detalhes numerosos arcos em um de seus lados (nove no
total)... As torres são também muito detalhadas e na frente do templo há arcos
transpassados decorando-o, acima da porta principal.
Lateral esquerda da Igreja de N.S. de Lourdes. Nessa imagem podemos ver os óculos e os arcos que detalham a estrutura. (Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13) |
torres da igreja
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr.
Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)
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altar principal (Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013) |
sacristia da igreja de Tejupeba, com lápides quebradas (Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013) |
piso deteriorado da igreja (Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013) |
O colégio-casa dos jesuítas tem uma estrutura pequena com uma boa
quantidade de cômodos que se distribuem em dois andares. Por fora podemos ver
uma varanda na parte superior e formas retas, sem detalhes (tais formas também
no interior); dentro do colégio-casa nada mais se encontra de original que se
possa descrever além de paredes, pois nem o piso, nem talvez o teto permaneceram
originais. Nenhum cômodo do período possui. Por causa da falta de iluminação,
situação comum à da igreja, os morcegos abundam.
No andar superior é recomendável que se ande com bastante cautela, pois
as tábuas do assoalho estão em más condições havendo muitas podres.
casa-colégio dos jesuítas
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr.
Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)
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Uma das salas do interior da casa-colégio (Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013) |
detalhe da frente da casa-colégio dos jesuítas em Tejupeba (Fonte: arquivo pessoal do alun o Márcio Lima, cap. em 19/02/2013) |
Quanto às senzalas que lá há, não são moradias de amontoamento coletivo feitas de palha, como imaginamos. São lares individuais de pequenas proporções - devido à Lei Eusébio de Queiróz houve ou maior cuidado com os escravos pelos seus patrões, visto que era mais vista como mais importante sua procriação para a sustentação do sistema escravista.
Ao chegarmos, o professor nos explicou a dinâmica que procederia. Seriam
escondidas duas barras de cereais, uma no interior da Igreja e a outra no do
colégio. Fomos divididos em dois grupos, cada grupo ficou com um dos
monumentos, e tinha como dever nele encontrar a sua barra de cereais. Então,
depois das instruções de cautela e da explicação da dinâmica, fomos em busca da
barra, conhecendo ao mesmo tempo o patrimônio histórico.
Depois de concluída a dinâmica, foi dada ao meu grupo (o da casa-colégio)
a permissão de conhecer o patrimônio onde o outro grupo foi achar a barra (a
igreja), e a este também a de conhecer a casa colégio.
Concluindo a viagem de estudos o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo explicou a
história do local, dando-nos ideia da sua importância, seguido da aluna universitária
itaporanguense conhecida como Josi, que está concluindo o curso de história e
que faz sua monografia sobre Tejupeba.
Pudemos, por exemplo, conhecer que a região onde
fica hoje a fazenda, se situava a aldeia Tejupeba, donde vem o nome atual do
povoado. Os frades e padres jesuítas, então, tiveram ideia de nela fazer
missão. Já em 1601, há registros de pedidos de terrenos deles aos seus
superiores. Tempo depois ela surgiu.
A abundância de madeira, a capacidade
daqueles jesuítas de fazerem embarcações, a criação de gado deles aliadas à
abundância de mão-de-obra indígena fermentaram o desenvolvimento da missão
jesuíta na localidade.
Tanto os índios quanto os frades e os
padres participaram daquelas construções, mas diz-se que a mão de obra foi
basicamente indígena porquanto o número de frades e padres era bem inferior ao
de índios. Mas isso não queria dizer que a relação entre os dois grupos fosse
totalmente harmoniosa.
Após
a expulsão dos jesuítas no Brasil, a propriedade passa para barão de Estância,
Antônio Dias Coelho; e depois da família Coelho, passará em 1920 para um
italiano da Sardenha, de nome Nicola Mandarino, e desde então não sai da
família.
Hoje
os lugares onde antes aqueles homens de fé seguidores de Inácio de Loyola que
ensinavam os índios estão sem reformas ou restauração, podendo futuramente vir
a desabar e, junto com eles, um pouco de nossa história.
Vista frontal da Igreja de N.S. do Perpétuo Socorro, em Tomar do Geru (Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13) |
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Brasão da Companhia de Jesus no teto da nave da igreja (Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013) |
Concluído o estudo, fomos a Tomar do
Geru, à igreja de N.S. do Perpétuo Socorro. Esta tem o exterior muito simples,
sem muitos detalhes, sem a grandiosidade que vimos em Tejupeba. Mas ao
entrarmos vimos que valeu a pena viajarmos tantas dezenas de quilômetros. No seu
interior, o altar de madeira banhado a ouro em toda sua extensão (salvo
detalhes) e cheio de adornos; suas imagens, antigas e também em madeira; no
teto, o brasão da Companhia de Jesus, etc. Verifica-se também um digno púlpito,
bem conservado.
A sacristia é extensa e há na parte
superior da igreja uma sala vazia onde se pode ver a parte de trás do altar,
que é por onde se colocam as imagens que ficam a nível de altura superior no
altar.
O templo é datado de 1688, e de sua
origem participaram os índios Kiriri, que habitavam a redondeza. Então o seu
grande diferencial em relação às outras que visitamos é justamente ter a
história não relacionada aos Tupinambá, mas aos Tapuia.
Primeiramente, o terreno que viria a ser
aldeamento jesuítas pertencia aos carmelitas, mas no fim século XVII foi
comprado pelos jesuítas que deram origem aos seus aldeamentos, à sua missão.
E assim daquela igreja saímos e
concluímos nossa viagem, seguindo vestígios históricos dum pouco do que a
Companhia de Jesus fez em nosso estado.
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