sábado, 6 de abril de 2013

Descrição de "The Blue Boy"


Pessoal, por ser a arte amiga e ajudante da história, posto essa descrição de pintura que é além de arte uma fonte histórica sobre a Inglaterra do século XVIII:



Thomas Gaingborough (1727-1788) Jonatahan Buttal (The Blue Boy) Tela, 180cm x 120cm. Provavelmente 1769-1770. San Marino (Califórnia). Bibioteca de Henry E. Huntington e Art Galery.

     Sobre o fundo de cores mortas, feito a rápidas pinceladas e não muito detalhado, encontra-se um garoto nobre de treze anos de refinada indumentária: um calção até os joelhos e um casaco (justaucorps), ambos sem bordado e azuis; nos pés, sapatos com laços, que são mais comuns na Inglaterra  antes Revolução Industrial; na mão do lado esquerdo da imagem, um chapéu bem típico da nobreza, enfeitado por um grande pluma branca; e a do lado direito está apoiada à cintura, permitindo-lhe exibir ainda mais o casaco.
    Não só as roupas demonstram a sua posição social, mas também a forma como ele se porta: seu rosto é erguido; o plácido olhar e postura confiantes sugerem certa altivez de espírito; a mão como está posta também reforça a essa sua nobreza que para alguns talvez beire a arrogância.
     Há no quadro um jogo de oposições: o azul expressivo e fulgente da roupa e a sofisticação dela se contrastam com o simples fundo escuro sem muita expressão da natureza. Essas características dão maior destaque ao humano, o que vem a ser reforçado nesta obra pelo brilho doirado das nuvens atrás do jovem à altura do busto, dando um ar majestoso e glorificado ao pequeno.
       A  representação de aristocratas junto à natureza é comum ao pintor do quadro e é o que também ocorre em “Senhor e a Senhora Andrews”, em que é apresentado um jovem casal num banco recostado a uma árvore, em meio a um campo. Tal tendência do artista explica-se, em parte, devida a escola de pintura da qual fez parte e tornou-se importante expoente inglês: o Arcadismo.
       Em suma, a obra “The blue boy” pretende fortemente demonstrar a classe social a qual pertence o jovem, como vimos, por vestes, pelo jeito que o menino se apresenta, e também pelo modo como a pintura representa-o em relação ao fundo da imagem. Devemos a obra a Thomas Gainsborough, grande mestre do retrato e da paisagem e forte representante do Arcadismo inglês. Assim como em muitas outras do pintor, demonstra-se a elegância de nobres do século XVIII na Inglaterra. É, portanto, uma expressão da riqueza aristocrática e uma síntese do estilo do pintor.


Bibliografia
-http://www.epdlp.com/pintor.php?id=253(acessado dia 27 de março de 2013)
-http://es.wikipedia.org/wiki/Thomas_Gainsborough (acessado 25 de março de 2013)

terça-feira, 2 de abril de 2013

Relatório da viagem de estudo "Castelo Garcia D'Ávila"



No dia 23 de março de 2013, a partir das 5h:30min a turma de licenciatura em história 2012.2 (noturna), juntamente com outras turmas saiu em direção ao município de Mata de São João-BA, para conhecer o Castelo Garcia D’Ávila, dirigida pelo prof. Dr. Antônio Lindvaldo Souza e monitorados por Josefa Edilene Santos. A visita que se iniciou por volta das 10h:30min foi concluída por volta das 12h30min. Por ela pudemos aprender um pouco mais da história da colonização, especificamente a colonização do território sergipano, sobre a qual Garcia D’Ávila, fundado da Casa da Torre, teve muita influência.




Primeiramente, fomos até o Centro de Visitação, uma estrutura formada por várias salas. Nele pudemos ver, logo na entrada, telas que representavam a relação entre índios e brancos durante a colonização. Seguindo, vimos peças arqueológicas. Havia apreciável riqueza de materiais encontrados nas proximidades do castelo: peças que iam desde a pré-história até o período colonial – havia pratos de cerâmica decorados com detalhes azuis, uma caneca de vidro, além das peças de argila.





centro de visitação
(fonte: acervo pessoal de Maria de Fátima Souza; cap. em 02/04/2013)


tela representando chegada de portugueses no litoral
(fonte: acervo pessoal de Rosângela Santana; cap. em 02/04/2013)



Num salão pudemos ver uma maquete da Casa da Torre. Havia também mais telas, representando o contato entre índios e brancos no Brasil Colonial, representando também o castelo Garcia D’Ávila e o dono de mesmo nome.





 
(fonte: acervo pessoal de Maria de Fátima Souza; cap. em 02/04/2013)




(fonte: acervo pessoal de Maria de Fátima Souza; cap. em 02/04/2013)



O professor Antônio Souza escolheu dar a primeira parte da sua aula num pátio. Acomodados no chão ouvimos o professor que fez explanações sobre a história escondida atrás dos muros do castelo Garcia D’Ávila, o que revelou ainda mais a sua importância história.
Mas antes foi feita a identificação do local que, como nos foi dito, fica a 240km de Aracaju; é um sítio histórico às margens da praia, no litoral, e que possui grande importância turística.
Posteriormente veio a explicação da metodologia usada pelo professor, ao que se seguiu explanações sobre o papel do homem na história, de sua relação com outrem como sendo fundamental na história, e da importância das construções deixadas pelo homem (em especial a Casa da Torre, já que era esse o objeto de nosso estudo) para a história. Segue a isso uma síntese sobre o passado da Casa da Torre.
Essa obra arquitetônica teve como primeiro dono Garcia D’Ávila e tinha originalmente a função de fortaleza. Seu dono tinha sido inicialmente almoxarife, o que largou para se dedicar à criação de gado e arrendamento de terras. A troca foi um bom negócio visto haver no período grande necessidade de carne bovina e leite e concorrência muito baixa.
Ao morrer a fortaleza torna-se propriedade de Francisco Dias D’Ávila, neto de Garcia, que chega a adentrar e possuir terras no sertão nordestino.
O seu abandono se dá no século XIX quando a família D’Ávila perde controle do morgado, por causa do declínio da sucessão de poder. E durante muito tempo, ela ficou sendo esquecida e invadida por turistas que vandalizavam-na.
A Casa da Torre foi palco de muitos eventos históricos importantes. Entre eles basta-nos citar a própria colonização do estado de Sergipe e a expulsão dos holandeses. Nota-se já daí a sua importância histórica nacional.
Findada a primeira parte, nos dirigimos para debaixo de uma árvore grande e frondosa para a realização da segunda parte da aula, onde pudemos nos acomodar para ouvirmos as formas de a historiografia tratar Garcia D’Ávila.
Como pudemos aprender, historiografia tratou Garcia de diferentes formas a depender do lugar e do tempo. O Instituto Histórico e Geográfico da Bahia, inicialmente criou em torno dele uma figura heroica para a Bahia, que tinha deixado de ser a capital do estado, perdendo tal honra ao estado do Rio de Janeiro. Então, o personagem histórico se torna uma ferramenta de revalorização da ex-capital do país. Já a historiografia sergipana o verá simplesmente como um importante criador de gado.
Por fim fomos ao castelo, onde tivemos a liberdade de transitar livremente em seu interior, conhecendo suas várias salas. Sua capela pudemos ver ser realmente a parte mais conservada de toda a estrutura, graças ao cuidado da comunidade religiosa para com o pequeno templo, ao longo dos anos. Nela havia sete imagens, da qual pudemos identificar com certeza 5 delas: Senhora Sant’Ana, Cristo Crucificado, São Francisco das Chagas e Nossa Senhora da Conceição. A capela, que tem dimensões ínfimas possui uma cúpula que dá um bom efeito acústico em seu interior. Suas paredes são pintadas de branco sendo eu em seu interior a detalhes em vermelho.
Como constatamos o restante do castelo não tem mais pintura, e está muito desgastado pelo tempo. Tem um porte considerável, as paredes são formadas por grandes blocos de pedra e suas formas são a de um castelo medieval. Ele não pôde ser restaurado em suas formas originais.
O piso original também pode ser apreciado em partes do castelo, porém a maior parte dele se perdeu restando apenas o a terra batida. Não mais há teto ou móveis. Ainda pode-se ver arcos e escadas.
Para termos acesso aos andares superiores havia plataformas de metal.





Castelo Garcia D'Ávila
(fonte: acervo pessoal de Maria de Fátima Souza; cap. em 02/04/2013)



(fonte: acervo pessoal de Maria de Fátima Souza; cap. em 02/04/2013)




estruturas de metais que permitem acesso a andares superiores 
(fonte: acervo pessoal de Maria de Fátima Souza; cap. em 02/04/2013)





(fonte: acervo pessoal de Maria de Fátima Souza; cap. em 02/04/2013)





(fonte: acervo pessoal de Rosângela Santana; cap. em 02/04/2013)





Da parte superior do castelo pudemos ver sua visão estratégica, através duma janela voltada para o mar. A proximidade aliada à posição favorecia que navios inimigos pudesses ser vistos com antecedência pelos primeiros D’Ávila.
Após conhecermos a estrutura retornamos para debaixo da árvore onde o prof. Dr. Antonio Souza fez algumas considerações finais em relação ao tema, concluindo assim a nossa viagem.
Essa viagem nos permitiu sentir o passado visitando um local de memória de grande importância para a história nacional, e que foi um ponto de partida para a colonização sergipana. Por meio dela, conhecemos mais um pouco da história por trás da nossa colonização, das suas causas e circunstâncias, sendo por isso de valiosa importância para a disciplina de Temas de Sergipe I.

quinta-feira, 21 de março de 2013

PROJETO PEDAGÓGICO "SÃO CRISTÓVÃO DEFENSORA"

  
PROJETO PEDAGÓGICO



TÍTULO:
Viagem de estudo: “SÃO CRISTÓVÃO DEFENSORA”


RESPONSÁVEL:
DENISSON ABREU TELES.
Professor da disciplina de História














Itaporanga D’Ajuda
Março de 2013.





I – APRESENTAÇÃO

Este projeto é uma ferramenta de entendimento do papel de defesa dos núcleos de povoamento no período colonial através da visita à antiga capital do estado de Sergipe, a cidade de São Cristóvão, e estudo dos primeiros tempos de sua história, relacionando a história colonial local à do Brasil.
           Antes da realização da visita, para a compreensão desta atividade pedagógica pelos alunos, serão trabalhados em sala de aula textos sobre São Cristóvão desde a sua fundação até o fim do período colonial, bem como o conteúdo que o livro didático de história geral da turma de 2ºano de ensino médio apresenta sobre o Brasil Colonial. Tais leituras aliadas às explicações durante a visita poderão despertar o olhar crítico do aluno e facilitarão a aprendizagem do tema.

II - JUSTIFICATIVA

O presente projeto intitulado “SÃO CRISTÓVÃO DEFESENSORA”, elaborado para a disciplina de História, surgiu da necessidade de compreender melhor os temas da colonização do Brasil e do papel dos núcleos de povoamento. Temas estes trabalhados em classe.
Os textos trabalhados em classe, as explicações e os locais visitados farão o aluno compreender a história local sergipana como interligada a história do Brasil e o fará compreender o importante papel que São Cristóvão possuiu, como sendo núcleo de povoamento nos Brasil colonial.

III– OBJETIVOS:

3.1.                       Objetivo Geral:
Compreender a localização de São Cristóvão como sendo um modelo de cidade-fortaleza e o seu papel no início de nossa história, introduzindo o contexto em que ela formou-se e fazendo uma ponte entre esse tema da história local sergipana e a história do Brasil.


3.2.                       Objetivos Específicos:

·         Entender as dificuldades de Portugal na colonização da colônia e as ameaças que havia aos planos de colonização.
·         Compreender o contexto da fundação da antiga São Cristóvão após a Guerra Justa de 1540.
·         Estudar a função dos núcleos de povoamento no Brasil colonial.
·         Discutir o papel de defesa militar que possuía a cidade durante o período colonial, observando sua posição geográfica.



IV – PÚBLICO-ALVO

Alunos da disciplina de História que cursam o 2ºano do ensino médio.

V - METODOLOGIA

Para atingirmos os objetivos propostos deste projeto, desenvolvemos os seguintes procedimentos metodológicos:
1 – Primeiramente, o estudo dos conteúdos sobre o Brasil colonial proposto pelo livro didático de história geral, associados a textos sobre a história de Sergipe colonial trabalhados em classe pelo professor;
2 – Como segunda fase teremos a aula do professor na Praça de São Francisco seguida da visita ao Convento da Igreja de Santa Cruz, onde iremos ao andar superior para observar a visão estratégica que se tem dele; depois faremos um trajeto até as proximidades da Igreja Matriz de N.S. da Vitória, observando a proximidade da cidade ao rio local, e também a  sua altitude.
3- Os alunos deverão fazer anotações sobre as explanações do professor;
4- Na quarta fase os alunos deverão elaborar os relatórios de viagem, para os quais deverão ler os textos trabalhados na unidade, sobre História de Sergipe e História do Brasil no período colonial. O relatório exige bibliografia complementar e deverá seguir as normas da ABNT.


VI – CRONOGRAMA
Atividades
Período
Análise do conteúdo programático
De 16 de agosto a 25 de outubro 2013
Visita monitorada ao Roteiro dos Jesuítas
26 de outubro de 2013
Entrega de relatórios individuais
31 de outubro de 2013

VII – ROTEIRO DA VISITA MONITORADA (“Plano Cidade Alta” )
1-      05h 30min. – Encontro com os alunos em frente ao colégio;
2-      08h 00min. – Início da aula pública com o Prof. Denisson Teles (professor de História). A partir desse horário será iniciada a visita à Praça de São Francisco e posteriormente será feito um trajeto até as proximidades da Igreja Matriz de N.S. da Vitória;
3-      11h 45min.- Encerramento das Atividades.


VIII – Referência Bibliográfica

SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe I. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe/ CESAD, 2007 (pág. 235-248).





terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Resenha de "O Queijo e Os Vermes"














      “O queijo e os vermes, cotidiano das ideias de um moleiro perseguido pela inquisição”, Carlo Guinzburg (Companhia das Letras, 1998), relata, como o subtítulo sugere-nos, os julgamentos, ideias, fantasias e aspirações de um moleiro herético que é julgado pela Inquisição Católica da Itália no século XVI.

      “...Tudo era um caos, isto é, terra, ar água e fogo juntos, e de todo aquele volume em movimento se formou uma massa, da mesma forma que o queijo é feito do leite, e do qual urgem os vermes, e esses eram os anjos...” É dessa maneira que o moleiro Domenico Scandela explica a origem de tudo o que há, e não se contendo com isso, compartilha  essa e mais outras heresias com os outros moradores de sua aldeia, até que é chamado pelo Tribunal do Santo Ofício, para receber sua devida correção. 

      Apesar de um paupérrimo moleiro da aldeia Montereale, da região de Friuli, Domenico Scandela, vulgo Menochio, era um homem culto, um leitor. Pela sua curiosidade e ousadia não demorou-lhe arranjar (comprados ou emprestados) livros proibidos pela Inquisição, como o Fioretto de la Bibbia, a Bíblia Vulgar e  Viagens de John Mandeville. Essas suas leituras aliadas à sua mente curiosa e à cultura oral camponesa do período, fizeram-no moldar uma cosmogonia própria e uma série de reflexões teológicas que iam contra a fé católica. Além de não aceitar Deus como criador de todas as coisas, negava a virgindade de Maria, a divindade de Cristo, a validade dos sacramentos, a imortalidade da alma, a autenticidade dos evangelhos (que segundo ele tinham sido feitos por padres e frades desocupados) e chegou ao ápice das heresias afirmando o panteísmo.
      Logo as suas frases heréticas chegam às autoridades altas do clero e Mencohio é denunciado à Inquisição e chamado a julgamento. Suas ideias, e entre elas sua estranha cosmogonia do queijo, chocaram os padres inquisidores, que nem conseguiam acreditar virem dum homem tão simples. Mas durante o julgamento Menochio parecia arrependido pronto para voltar a abraçar a fé católica que tinha sido recebido de seus pais, o que não lhe excluiu a punição do tribunal...
       Foi-lhe dada a dura pena de usar sempre um hábito com uma cruz e não sair da sua aldeia. Então, o herético “arrependido” volta à sua aldeia. E tudo terminaria comum na vida dele se abandonasse as suas opiniões, como foi o caso de Galileu Galilei, mas estas foram gerando mais outras até que Menochio volta a pronunciá-las em público, até que boatos a respeito disso são de novo ouvidos pelas altas autoridades da igreja, que logo agem.

       O impenitente, o relapso, é reconduzido ao Santo Ofício em junho de 1599, quinze anos após o primeiro julgamento. Dessa última vez, observando os seus julgadores que ele persistia e não pretendia parar em suas heresias, e que havia criado outras, tomam a decisão de dá-lo a punição maior que podiam: a de entrega-lo nas mãos do Estado, o qual o executaria. E assim o foi.

    Já em idade avançada Menochio sai da vida de moleiro relapso e entra na história, ajudando-nos a entender as classes subalternas da Idade Média.

      Do micro acontecimento, ao mundo do macro, do particular ao abrangente; alargando as nossas visões... Assim procede o livro o Queijo e os Vermes. Mais que uma biografia, é uma análise da cultura das classes subalternas italianas do século XVI, de sua cultura popular, a medida que reconstrói um fragmento dela buscando compreender quem é Menochio e porque ele é. Mergulhadas nas ideias de Menochio postas em suas páginas, vêm a luz amostras de crenças populares das obscuras mitologias camponesas da idade média que se opunham ao catolicismo.
      A obra é da autoria do historiador italiano Carlo Guinzburg. Este nasceu em Turim (1939), filho de dois outros intelectuais, o tradutor Leone Ginzburg e a romancista Natalia Ginzburg. Por das décadas ele foi professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles até que volta ao seu país de origem e ocupa a cadeira de história cultural europeia na Escola Normal Superior de Pisa, isso a partir de 2006.

      Ele é um das referências em história na atualidade, um dos principais nomes da Microhistória, “escola que reduz a escala de observação e dá notoriedade a fatos relevantes que são ignorados dentro de um contexto construído de forma generalizadora, além de utilizar como recurso documental uma série de fontes que não era considerada pela história tradicional” (http://www.infoescola.com/biografias/carlo-ginzburg/).

        Além da obra aqui tratada, é autor de História Noturna (1991), Mitos, Emblemas e Sinais (1989) e Olhos de Madeira (2001) e Os Andarilhos do Bem (1988). Mas foi com O Queijo e os Vermes que ele ganhou grande reconhecimento internacional.
                   
                                 Dênisson Abreu Teles, acadêmico do curso de História (UFSe)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Relatório da viagem de estudos Roteiro dos Jesuítas




   Em 16 de agosto de 2013, a partir das 07h30min, a turma do curso de história 2012.2 noturno, saiu da UFSe em direção aos municípios de Laranjeiras, Itaporanga D’Ajuda e Tomar do Geru, dirigida pelo Prof. Dr. Antônio Lindvaldo Souza e acompanhada pela monitora Josefa Eliene Santos. Por esse roteiro dos jesuítas, pudemos conhecer um pouco do que construiu a Companhia de Jesus durante o período colonial aqui no estado, até sua expulsão pelo Marquês de Pombal, por volta de 1760.





Igreja de N.S. da Conceição de Comandaroba
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)
                                                 



Turma em frente à Igreja de Comandaroba
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)





      De Aracaju fomos primeiramente a Laranjeiras, no povoado Comandaroba (nome de origem indígena que alguns historiadores dizem significar “feijão-verde”), mais especificamente à igreja de mesmo nome. Chegamos lá por volta das 08h00min.
      De início, o professor separou a turma em sete grupos, cada um com cinco alunos, e deu-lhes tarefas específicas - um grupo ficou responsável por observar os túmulos, outro pelas imagens, outro ainda pela a parte lateral externa, etc. A minha equipe ficou responsável pelas imagens, ou imaginária.
      A Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Comandaroba situa-se no topo dum pequeno monte. Ela encanta, fundindo na sua arquitetura o Barroco, o Maneirismo e a Renascença, sensação que aumenta na beleza dos arcos. Sua construção data de 1734, e foi fundada pela Companhia de Jesus, antes da expulsão. Assim como as outras duas que visitamos, é tombada pelo IPHAN desde 1985, trina e cinco anos depois da sua restauração.
      O seu surgimento bem assim como a fixação dos religiosos fundadores no local está relacionado, como veio a nos revelar o Prof.Dr.Antônio, com o ciclo do açúcar na economia sergipana. A própria povoação de Laranjeiras vem a se desenvolver no final do período colonial pelo mesmo fator.
      A padroeira da igreja é bem conhecida É interessante como o título dado à Virgem Maria de “Nossa Senhora da Conceição” é muito usado no Brasil, o que é explicado entre outros motivos pela colonização portuguesa, pois ela é padroeira da nossa antiga metrópole. Apenas foi-lhe adicionado o nome de “Comandaroba”, em referência à comunidade onde surgiu.
      Ao entrar em seu interior pudemos ver o cuidado de detalhes no trabalho dos artistas que compuseram a obra arquitetônica. Muitas de suas portas e janelas possuem vedação em folhas almofadadas (como é o caso da porta que dá acesso à lateral altar pela sacristia, e das janelas retangulares da parte superior interna da igreja); o altar é entalhado em madeira, com vários detalhes de anjos entre outras representações; o púlpito, também em madeira, possui detalhes também em sua base de pedra.
      Há ainda, como é comum nos corredores de igrejas antigas, lápides de pessoas importantes, que fizeram parte de sua história. Na sacristia há uma arca grande em madeira e uma pia batismal.

      Obedecendo ao procedimento do professor, meu grupo foi logo em busca das imagens, mas estavam cobertas por véus roxos, devido à Quaresma. Nós fotografamo-las então do jeito que estavam, mas conseguimos fotos delas descobertas pelo auxílio da internet. As imagens são: São Benedito, São José, N.S. da Conceição, Sagrado Coração de Jesus e São Gonçalo. Vale ressaltar que São Gonçalo e São Benedito e N. S. da Conceição eram muito comuns nas igrejas do Brasil colônia, diferentemente de Sagrado Coração de Jesus (porque não havia ainda a devoção).






Altar da Igreja de N.S. da Conceição de Comandaroba 
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)





Altar da Igreja de N.S. da Conceição de Comandaroba, onde vemos os santos cobertos por véus devido à Quraesma.
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)
      



      Após a pesquisa dos grupos, o professor foi dando-nos explicações quanto à história e a estrutura da igreja, que serviram de base para as informações quedadas logo acima neste relatório.
      No fim da manhã, saímos de Laranjeiras e fomos em direção a Itaporanga D’Ajuda, no povoado Tejupeba. Dirigimo-nos à Fazenda Iolanda, a qual pertence à família Mandarino atualmente, mas que antanho era da Companhia de Jesus. Isso porque, não apenas em Sergipe mas em todo Brasil, depois da expulsão as propriedades dos jesuítas acabaram virando particulares, sendo que algumas deixaram de o ser ao longo do tempo, o que não é o caso da igreja de Tejupeba.
        Na fazenda se encontram uma igreja, um colégio jesuíta e uma senzala.




Casa-colégio dos jesuítas
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)



Vista frontal da Igreja de N.S. de Lourdes
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)



      A igreja, que é dedicada a N.S. de Lourdes, é um templo religioso mui belo por fora, com vários detalhes numerosos arcos em um de seus lados (nove no total)... As torres são também muito detalhadas e na frente do templo há arcos transpassados decorando-o, acima da porta principal.




Lateral esquerda da Igreja de N.S. de Lourdes. Nessa imagem podemos ver os óculos e os arcos que detalham a estrutura.
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)

    





torres da igreja 
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr.
 Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)
       Mas toda essa admiração com a sua boniteza finda ao entrarmos: em seu interior se constata péssima conservação dum templo que até a década de setenta era usado para celebrações, e isso ainda sabendo que é um patrimônio tombado como nacional. Do altar quase nada mais resta, apenas escombros do que um dia foi; seu púlpito parece apenas uma rampa quadricular suspensa, sem decoração ou pintura; e em sua sacristia vê-se apenas o escuro onde se encontram quebradas 6 lápides de vistosos personagens da história daquela fazenda que tem uma das igrejas mais antigas do estado sergipano e um pequeno altar ainda de pé, mas sem imagens.



altar principal
(Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)





sacristia da igreja de Tejupeba, com lápides quebradas
(Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)




piso deteriorado da igreja
(Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)

                                                   



      O colégio-casa dos jesuítas tem uma estrutura pequena com uma boa quantidade de cômodos que se distribuem em dois andares. Por fora podemos ver uma varanda na parte superior e formas retas, sem detalhes (tais formas também no interior); dentro do colégio-casa nada mais se encontra de original que se possa descrever além de paredes, pois nem o piso, nem talvez o teto permaneceram originais. Nenhum cômodo do período possui. Por causa da falta de iluminação, situação comum à da igreja, os morcegos abundam.        
      No andar superior é recomendável que se ande com bastante cautela, pois as tábuas do assoalho estão em más condições havendo muitas podres.



      



  
                       
casa-colégio dos jesuítas
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr.
 Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)




Uma das salas do interior da casa-colégio
(Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)
detalhe da frente da casa-colégio dos
jesuítas em Tejupeba
(Fonte: arquivo pessoal do alun
o Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)
   


  Quanto às senzalas que lá há, não são moradias de amontoamento coletivo feitas de palha, como imaginamos. São lares individuais de pequenas proporções - devido à Lei Eusébio de Queiróz houve ou maior cuidado com os escravos pelos seus patrões, visto que era mais vista como mais importante sua procriação para a sustentação do sistema escravista.
      Ao chegarmos, o professor nos explicou a dinâmica que procederia. Seriam escondidas duas barras de cereais, uma no interior da Igreja e a outra no do colégio. Fomos divididos em dois grupos, cada grupo ficou com um dos monumentos, e tinha como dever nele encontrar a sua barra de cereais. Então, depois das instruções de cautela e da explicação da dinâmica, fomos em busca da barra, conhecendo ao mesmo tempo o patrimônio histórico.
      Depois de concluída a dinâmica, foi dada ao meu grupo (o da casa-colégio) a permissão de conhecer o patrimônio onde o outro grupo foi achar a barra (a igreja), e a este também a de conhecer a casa colégio.
      Concluindo a viagem de estudos o Prof. Dr. Antônio Lindvaldo explicou a história do local, dando-nos ideia da sua importância, seguido da aluna universitária itaporanguense conhecida como Josi, que está concluindo o curso de história e que faz sua monografia sobre Tejupeba.
    Pudemos, por exemplo, conhecer que a região onde fica hoje a fazenda, se situava a aldeia Tejupeba, donde vem o nome atual do povoado. Os frades e padres jesuítas, então, tiveram ideia de nela fazer missão. Já em 1601, há registros de pedidos de terrenos deles aos seus superiores. Tempo depois ela surgiu.
    A abundância de madeira, a capacidade daqueles jesuítas de fazerem embarcações, a criação de gado deles aliadas à abundância de mão-de-obra indígena fermentaram o desenvolvimento da missão jesuíta na localidade.
    Tanto os índios quanto os frades e os padres participaram daquelas construções, mas diz-se que a mão de obra foi basicamente indígena porquanto o número de frades e padres era bem inferior ao de índios. Mas isso não queria dizer que a relação entre os dois grupos fosse totalmente harmoniosa.
    Após a expulsão dos jesuítas no Brasil, a propriedade passa para barão de Estância, Antônio Dias Coelho; e depois da família Coelho, passará em 1920 para um italiano da Sardenha, de nome Nicola Mandarino, e desde então não sai da família.
    Hoje os lugares onde antes aqueles homens de fé seguidores de Inácio de Loyola que ensinavam os índios estão sem reformas ou restauração, podendo futuramente vir a desabar e, junto com eles, um pouco de nossa história.




Vista frontal da Igreja de N.S. do Perpétuo Socorro, em Tomar do Geru
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)





Vista do interior da igreja de Tomar do Geru, onde se pode ver o altar ao centro e os
nichos laterais, com detalhes banhados a ouro.
(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)





(Fonte: acervo pessoal do Prof.Dr. Antonio Lindvaldo; cap. em 19/02/13)


Brasão da Companhia de Jesus no teto da nave da igreja
(Fonte: arquivo pessoal do aluno Márcio Lima, cap. em 19/02/2013)





      Concluído o estudo, fomos a Tomar do Geru, à igreja de N.S. do Perpétuo Socorro. Esta tem o exterior muito simples, sem muitos detalhes, sem a grandiosidade que vimos em Tejupeba. Mas ao entrarmos vimos que valeu a pena viajarmos tantas dezenas de quilômetros. No seu interior, o altar de madeira banhado a ouro em toda sua extensão (salvo detalhes) e cheio de adornos; suas imagens, antigas e também em madeira; no teto, o brasão da Companhia de Jesus, etc. Verifica-se também um digno púlpito, bem conservado.
       A sacristia é extensa e há na parte superior da igreja uma sala vazia onde se pode ver a parte de trás do altar, que é por onde se colocam as imagens que ficam a nível de altura superior no altar.
     O templo é datado de 1688, e de sua origem participaram os índios Kiriri, que habitavam a redondeza. Então o seu grande diferencial em relação às outras que visitamos é justamente ter a história não relacionada aos Tupinambá, mas aos Tapuia.
        Primeiramente, o terreno que viria a ser aldeamento jesuítas pertencia aos carmelitas, mas no fim século XVII foi comprado pelos jesuítas que deram origem aos seus aldeamentos, à sua missão.
      E assim daquela igreja saímos e concluímos nossa viagem, seguindo vestígios históricos dum pouco do que a Companhia de Jesus fez em nosso estado.